terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O Que é Ideologia? Maria Helena Chauí - Resenha

O Que é Ideologia Maria Helena Chauí


 Wesley Lopes Alves[1]

      Com apoio as ideias de Marx e Hegel, Marilena Chauí em sua obra: “O que é Ideologia”, busca expor e detalhar o que é a ideologia, as suas fontes – origem – e qual a sua principal função na sociedade atual, sendo esta criticada por Marilena como a sociedade do capitalismo e da ideologia mascarada.

Segundo a autora, a ideologia é percebida a partir do século XIX como meio de estruturação das ideias da época, tornando estas mais palpáveis e mais confiáveis, como forma de estruturar todo o conhecimento crítico, ganhando mais autonomia e maior veracidade. Surgindo portanto, segundo Chauí, das seguintes premissas: “Querer (Vontade); Julgar (Razão); Sentir (Percepção); Recordar (Memória)”. Deste modo, a ideologia seria o grande resultado do questionamento. Recebendo, até mesmo, de Napoleão Bonaparte a seguinte crítica: “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia”.

Seguindo a visão de Marilena, veremos que a Ideologia tem sua história marcada desde os anos 469 a.c. em Atenas, na Grécia antiga, em que temos os primeiros pensadores e filósofos, tal como Sócrates, que a partir do questionamento – antecessor da ideologia – pode levantar e solidificar a sua própria ciência.

No entanto, é no século XIX, tal como aponta Chauí, que o tema ideologia surge em xeque, principalmente dentre os filósofos, como forma de dominação e persuasão da sociedade. Sendo assim, vislumbrando o contexto social atual, a autora evidência três grandes fases do surgimento da sociedade. Sendo o primeiro a fase em que são sistematizadas as ideias da sociedade por meio dos pensadores, contornando aqui todos os interesses emergentes da população.

Em seu segundo plano, estes interesses são expostos de forma a ganharem o senso comum, ou ainda se popularizarem, tornando-os aceitos até mesmo por aqueles que são contrários à dominação, consolidando e interiorizando estas ideias no seio da sociedade.

E, por fim, esta ideia solidificada se torna dominante e controlada pelo detentor do poder, que, por sua vez, converge estas ideias em interesses particulares para a própria classe dominante.

Sendo, portanto, o que Marilena fundamenta como sendo um “Conjunto lógico, sistemático e coerente de representações ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta)”, sendo assim a forma de ordenar e prescrever o modo de pensamento da sociedade, criando sobre esta o “sentimento da identidade social”. Em que, seguir o que a ideologia da sua época determina é fator sine-qua-non para ser aceito e incluso na sociedade.

E esta visão de aceitação e de ordenação da sociedade surge com o capitalismo – modelo econômico que visa a lucratividade – em que deixando de lado a imposição do absolutismo e do autoritarismo – forma de governo dominada por um monarca absolutista que dita as regras e a forma da sociedade – traça uma forma de imposição de ordenação do social, entretanto, de forma mascarada e introvertida. Criando a sensação de liberdade, mas que está ligada fortemente ao modelo de imposição da classe dominante.

Tendo em vista, ser a burguesia a classe dominante e detentora da ideologia, haja vista que embora tenha o âmago de manter a visibilidade de libertário e de desprendido, o modo capitalista atual tem se utilizado da ideologia, como forma de dominar as pessoas e de mascar o seu principal intuito. Ou seja, enquanto o absolutismo é marcado pela imposição de ordem aos escravos ou súditos, em troca de alimentos e de sobrevivência, o capitalismo atual se utiliza da separação do homem e da sua forma de produção como meio de vislumbrar uma sociedade livre.

No entanto, esta ideia de liberdade, é mais uma forma ideológica-midiática e palatável para sociedade, como meio para mascarar a principal gravidade do capitalismo que seria a separação do homem e da sua fonte de produção. Ou seja, tal como aponta Marx, as causas de movimento podem ser compreendida sobre quatro vertentes, sendo elas: “Material (Forma de um Objeto) – Formal (A forma que se atribui a este objeto) – Motriz (Força que transforma a matéria em forma) e Final (Razão que levou o objeto a possuir determinada forma”. Deste modo, quando o capitalismo surge, este priva do ser humano a sua capacidade de produção, haja vista que ao separar o homem e sua matéria este não mais pode produzir e, portanto, se torna escravo do detentor da matéria – que por sua vez é o mesmo autoritário do absolutismo, mas que agora se reveste pelo termo de burguês.

Não muito obstante, neste mesmo ponto do capitalismo, visando expor a sua imagem, o detentor da matéria e da causa final concede parte do seu lucro ao trabalhador, subordinando este ao novo conceito do capitalismo, que seria, por sua vez, o salário.

E este modelo capitalista se torna possível, tendo em vista que, sendo, portanto, os proprietários dos meios de produção os mesmos dominadores da ideologia, estes fragmentam a sociedade e criam ideologias menores que impossibilitam que se crie um novo detentor da ideologia e, portanto, detentor dos meios de produção.

Para tanto, Marx determina o que chamamos de “exploração do Trabalho”, que seria a forma introvertida do “novo” patrão conceder ao trabalhador parte da lucratividade em troca da possibilidade deste se utilizar do meio de produção para produzir aos patrões e receber o seu salário.

Ademais, para Marilena, a ideologia vai além de ser meio para separar o trabalhador e sua fonte de trabalho. A ideologia também se utiliza dos meios a sua volta para se legitimar. Sendo assim, é por meio do Direito e, principalmente, do Estado que a ideologia se reveste para se auto legitima, de modo que o Estado, detentor da coerção e da repressão, possa repelir qualquer tipo nova ideologia que esteja em ascensão na sociedade e colocando em risco a ideologia existente.

E o Estado, por sua vez, se utiliza da sua fonte máxima que é o Direito para criar circunstâncias, ou ainda normas, para que se possa utilizar da sua forma estatal para coibir e reprimir qualquer tipo de ascensão ideológica que coloque em risco a ordem ideológica existente. Possibilitando assim que o Estado por meio do estado democrático de direito possa coibir ideologias com amparo das normas vigentes.

Desta forma, percebe-se que além de ser a detentora da ordem social, econômica e política, a classe dominante, acima de tudo, também é a grande detentora do que Chauí chama de plano espiritual que é o plano das ideias. E que, portanto, para manter a sua dominação a classe detentora do poder e da ideologia dissemina a sua ideia por meio da educação, dos costumes e, principalmente, dos meios de comunicação disponíveis. Impossibilitando assim que as explorações existentes não sejam percebidas pela sociedade.

Referências:

CHAUI, Marilena. O que é Ideologia. 2ª ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2006.

Bottomore, T. e Rubel, M. Sociologia e Filosofia Social de Karl Marx. Rio de Janeiro: Zahar, 1964.

Gabriel, Mary. Amor e capital: A saga familiar de Karl Marx e a história de uma revolução. Zahar, Rio de Janeiro, 2013.


CALLINICOS, Alex. Introdução ao Capital de Karl Marx. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/038/38tccallinicos.htm>. Acesso em: 11 jun. 2017.





[1] Graduando em bacharel em Direito, pela universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, Passos. E-mail: wesleylalves@hotmail.com.  



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